10/02/2015
Na semana passada grande parte dos portugueses teve a possibilidade de assistir, com grande emoção a algo que não pensávamos possível de acontecer em qualquer altura, muito menos em pleno século XXI, num país da “zona euro” da União Europeia, um doente, interrompendo uma sessão de uma comissão parlamentar, para pedir ao ministro da saúde para o salvar, para não o deixar morrer.
O doente, portador de hepatite C, pedia ao ministro que facultasse, através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o medicamento que o salvaria de uma morte certa se não o tomasse, tal como aconteceu à mãe de um jovem que estava ao seu lado e que sucumbiu à doença por não ter recebido o referido medicamento.
Era e é minha convicção que a vida humana não tem preço. A vida de qualquer pessoa deve ser salva, havendo, para isso, possibilidades, seja qual for o custo económico desse acto de salvamento.
Tenho para mim e defendo isso que se há coisas que justificam a existência de um Estado e da cobrança de impostos que faz a todos nós cidadãos, a preservação da vida humana será a principal.
Todavia, sei que nem todos pensam assim. Sei que nem todos defendem o mesmo que eu, mas mesmo assim foi com espanto e horror que ouvi o primeiro ministro de Portugal dizer que ao Estado compete salvar vidas mas não é a qualquer preço, porque os recursos económicos são limitados!
Nunca antes, suponho eu, se tinha ouvido de um primeiro-ministro tão desumana afirmação, tão grande desvalorização da vida humana, tão grande insensibilidade para com o seu semelhante.
Ainda assim, estas afirmações, do nosso primeiro governante, suscitam-me a seguinte questão: para onde foram, então, os recursos conseguidos com a maior cobrança de impostos que há memória? Segundo os números da Unidade Técnica de Apoio Orçamental a carga fiscal que todos nós suportámos foi de mais 900 milhões do que tinha sido previsto. Todos sabemos, que todos os anos deste governo tem sido assim, não sabemos é para onde foram todos esses milhões!?
Aliás, supomos saber, que serão para pagar aos agiotas bancos internacionais, nomeadamente europeus (os mercados), que alguns consideram os nossos salvadores, porque nos emprestam dinheiro para lhes pagar, mas que nos cobram juros verdadeiramente proibitivos, que nada têm a ver com a solidariedade que esteve na base da fundação da União Europeia.
Se não tivessem, e têm, mais direito nenhum, os portugueses terão sempre o direito a exigir, que os seus impostos sirvam, ao menos, para pagar seja qual for o acto clínico e seja qual for o seu custo económico, que possa salvar vidas.