Cientistas e médicos do Centro Champalimaud dizem ter testado com êxito uma nova técnica de ressonância magnética que permite determinar com precisão, antes de uma cirurgia, se os gânglios linfáticos de doentes com cancro do reto foram afetados.
A técnica, descrita num artigo hoje publicado na revista da especialidade Cancer Research, poderá ajudar os médicos a definirem a estratégia de tratamento dos doentes mais adequada, nomeadamente selecionar melhor os doentes que beneficiam mais de radioterapia ou quimioterapia antes da remoção cirúrgica do tumor.
A nova tecnologia de imagiologia por ressonância magnética foi testada no cancro do reto, mas, eventualmente, pode ser usada para determinar a malignidade dos gânglios linfáticos noutros tumores, como o da mama, de acordo com os autores do artigo.
Os gânglios linfáticos envolvidos no cancro apresentam células malignas grandes e compactas.
No caso do cancro do reto, o estado dos gânglios linfáticos no mesorreto (tecido que envolve o reto) é considerado um importante indicador de prognóstico dos doentes.
Contudo, atualmente, com as técnicas de imagem em vigor na prática clínica, o conhecimento do estado dos gânglios linfáticos dos doentes com cancro do reto antes da cirurgia “é limitado”, assinala a primeira autora do artigo, Inês Santiago, citada em comunicado pela Fundação Champalimaud.
Segundo a radiologista, “a tomada de decisão” dos médicos sobre a prescrição de radioterapia ou quimioterapia antes da cirurgia para remover o tumor, o reto e o mesorreto “baseia-se em grande parte noutras características do tumor”.
Inês Santiago descreveu à Lusa que a nova técnica “permite extrair parâmetros” que “classificam os gânglios com uma acuidade superior” à das técnicas convencionais, ao “aumentar a sensibilidade” das células a “pequenas perturbações do campo magnético”.
Na prática, a técnica permite visualizar a assinatura magnética dos gânglios linfáticos, diferenciando os que são benignos (que apresentam células pequenas e não muito densas) dos que são malignos.
A equipa de cientistas e médicos do Centro Champalimaud, em Lisboa, testou a nova técnica de ressonância magnética em fragmentos de gânglios extraídos de doentes com cancro do reto operados, tendo confirmado os dados com os resultados obtidos nos exames patológicos.
Depois, aplicou a técnica a doentes antes de serem operados, adaptando-a a ‘scanners’ convencionais, que têm um campo magnético mais fraco, e voltou a confirmar os dados com os exames patológicos feitos após a cirurgia.
Num próximo passo, o grupo, que inclui especialistas em ressonância magnética e análise de imagem, pretende validar a técnica em mais doentes com cancro do reto e com outros tumores, testar um campo magnético mais forte e estender a aplicação experimental da técnica a instituições com equipamentos diferentes dos que são utilizados no Centro Champalimaud.