10/10/15
Nós temos Escola, temos alunos, mas não temos navios. Por esse motivo, os alunos têm dificuldade em deixarem de o ser, porque para isso necessitam de embarcar para fazer o seu estágio, elaborar o seu relatório, que será defendido perante um júri na Escola e só depois, se aprovados, deixarão de ser alunos, passando a ser Oficiais Chefes de Quarto, podendo então, na posse do respectivo certificado, desenvolver a sua carreira de Oficial da Marinha Mercante.
Esta minha conjectura surgiu-me quando lia a frase “minha querida Escola Náutica”, que tanto impressionou a Presidente da Associação de Alunos da ENIDH, Daniela Gonçalves, a qual, dizendo tê-la ouvido de “velhos lobos-do-mar”, a utilizou no seu discurso proferido na sessão comemorativa do 91º Aniversário da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (ENIDH), realçando a relação de proximidade que tem existido entre os alunos e a sua Escola Náutica. Pelo meu lado fico feliz por saber que as frases que alguns de nós, mais idosos, proferem têm um efeito proactivo e mobilizador sobre os futuros Oficiais.
Todavia, fica-me a fervilhar na ideia, o facto de não termos navios, logo não termos marinha mercante, apesar de nos zurzirem, muitas vezes de diversos quadrantes, que o mar é o futuro, que o mar é fundamental para a nossa economia. A tal ponto que até formulámos o pedido de alargamento da nossa zona de jurisdição marítima, o que a ser aceite, nos transformaria num dos países, nessa matéria, mais importantes do mundo. Nós não estamos preparados para uma tão grande responsabilidade, parecendo-me até que os nossos responsáveis políticos nem percebem a importância de nos prepararmos.
Na atrás referida sessão comemorativa foi com agradável surpresa que ouvimos dizer que a ENIDH tinha merecido a escolha de um bom número de candidatos ao ensino superior, o que confirmámos no site da Direcção Geral do Ensino Superior. Entraram para a Escola Náutica este ano, 125 novos alunos. Infelizmente para nós, a maioria não se destina a cursos para o mar, mas sim a cursos afins como Gestão Portuária e Gestão de Transportes e Logística. É, no entanto, de realçar que os 20 alunos para Engenharia de Máquinas Marítimas e os 37 para Pilotagem são números aceitáveis, na medida em que a nossa actual frota mercante, inscrita no registo tradicional, é de apenas 12 navios! Onde é que vão estagiar para concluírem o seu curso? E, terminado o curso, onde é que vamos embarcar estes novos Oficiais?
Tenho a sensação de que grande parte das pessoas que falam ou se dizem interessados no Mar ainda pensa, que podemos ser uma potência marítima sem possuirmos marinha mercante!
Estão enganados os que assim pensam, estão enganados os que assim agem.
Se não desenvolvermos o sector onde temos experiência e conhecimento e que será certamente a base de uma futura exploração dos recursos do mar, como poderemos desenvolver os outros sectores ligados a esta futura actividade?
Estamos em vias de mudança de governo, sendo por isso altura de fazer um apelo aos novos governantes para se interessarem pela marinha mercante, tomando medidas de incentivo aos actuais e potenciais armadores para que invistam num sector que apesar de difícil é de futuro e estratégico para o país.